Humberto Rocha
A bexiga faz parte do sistema urinário, conjuntamente com os rins, os ureteres, que ligam os rins à bexiga, e a uretra, que liga a bexiga ao exterior do corpo (Fig. 1). O sistema urinário tem diversas funções de vital importância [1], nas quais os rins são actores principais, incluindo a filtragem sanguínea que conduz à produção, armazenamento e eliminação da urina. A função da bexiga é essencialmente de armazenamento.
Figura 1 – Sistema urinário (retirado de [2]) |
A bexiga é um órgão muscular elástico, que funciona como reservatório da urina produzida pelos rins, com tamanho e forma variáveis consoante o volume de urina que contém, podendo conter até 700 ou 800 mL. Contém três orifícios, dois ureterais e um uretral. É um órgão oco, revestido internamente pelo epitélio de transição ou urotélio, pelo tecido conjuntivo e pela camada muscular tripla de músculo liso, cujas fibras musculares se encontram entrelaçadas em todas as direções, originando o músculo detrusor. A sua face superior encontra-se revestida pelo peritoneu (Fig. 2).
Figura 2 – Ilustração da bexiga (retirado de [3]) |
O urotélio é um epitélio estratificado, diferente dos demais epitélios, sendo típico das vias urinárias. Tem a capacidade de alterar a quantidade das suas camadas celulares de acordo com o grau de distensão destas vias. Quando vazia, a bexiga (e também os ureteres) exibem até 7 camadas de células. Note-se que os núcleos das células são pequenos e circulares próximo ao tecido conjuntivo, aumentando em direção à superfície onde as células começam a adquirir um aspecto em forma de pêra (piriforme). As células superficiais são as maiores, bem coradas, em forma de cúpula podendo ter mais do que um núcleo (Fig. 3).
Pode-se então dizer que existem três camadas de células, uma camada basal, uma camada intermédia e uma camada superficial. As células da camada basal renovam o uratélio por divisão celular. As células da superfície estão cobertas por uma camada de GAG (glicosaminoglicano) (Fig. 4). A função desta camada é ainda controversa, sugerindo-se que funciona como barreira osmótica (entre a urina e o sangue) e também como proteção anti-bacteriana.
Figura 4 – Representação esquemática do urotélio (retirado de [5]) |
A enorme elasticidade do urotélio, em particular das células da camada superficial, fazem com que, na bexiga cheia de urina, as células epiteliais deslizem umas sobre as outras, tornando o epitélio mais delgado, à medida que aumenta a capacidade da bexiga (Fig. 5). O aspecto histológico do urotélio varia então consoante o volume de urina armazenado na bexiga.
Figura 5 – Estrutura do epitélio de transição quando a bexiga urinária está cheia (retirado de [4]) |
O cancro da bexiga é o 4º cancro mais comum no homem e o 8º na mulher. Se nos reportarmos ao aparelho urogenital, é o 2.º mais frequente, logo depois do cancro da próstata. É cerca de três vezes mais frequente no sexo masculino e a sua incidência aumenta com a idade. Nos países desenvolvidos, cerca de 90% a 95% dos cancros da bexiga são cancros do urotélio enquanto os restantes são de origem mesenquimatosa (adenocarcinomas, sarcomas, etc). Em Portugal estima-se que a taxa de incidência por cada 100 000 habitantes é de cerca de 30, i.e., por ano estima-se que hajam 3000 novos casos de cancro da bexiga (Figura 6). Existem diversos factores de risco para o cancro do urotélio da bexiga, tendo sido o tabaco identificado como um dos principais. Sendo a Espanha um dos países europeus com mais fumadores, isso talvez ajude a explicar a sua liderança (indesejada) neste ranking. Além do tabaco, outros factores de risco incluem a exposição a determinados agentes químicos assim como factores hereditários.
Figura 6 – Estimativa dos números do cancro da bexiga na Europa (retirado de [6]) |
Este tipo de cancro pode não apresentar muitos sinais e sintomas, sendo muitas vezes a hematúria – a presença de sangue na urina – o primeiro sinal relevante, ocorrendo em 85% dos casos de cancro da bexiga. Após a detecção de um tumor da bexiga, por ecografia ou cistoscopia, a histologia é fundamental no diagnóstico definitivo e na caracterização do tumor. Através de uma técnica cirúrgica designada por “Ressecção Transuretral da Bexiga (RTU-V)”, que consiste na excisão endoscópica de fragmentos do tumor, este pode ser caracterizado em relação à profundidade da lesão na parede da bexiga e em relação à sua diferenciação celular. Pode-se classificar como superficial (in situ) se atingir apenas o urotélio ou profundo (invasivo) se invade a parede da bexiga na sua profundidade até à camada muscular. A diferenciação celular tem a ver com o facto de as células do tumor serem mais ou menos parecidas com as células da bexiga saudável e existem actualmente três graus possíveis, sendo o primeiro o mais parecido ao tecido saudável e o terceiro o mais distinto deste mesmo tecido. De uma forma geral, os tumores invasivos são indiferenciados, do terceiro tipo. O correcto diagnóstico e caracterização do tumor através de análise histológica são fundamentais para determinar qual a terapêutica a adoptar, onde se inclui a quimioterapia, radioterapia ou até mesmo cirurgia. Por último, apresenta-se na Figura 7 as diferenças entre o urotélio normal e o urotélio com CIS (carcinoma in situ).
Figura 7 – Urotélio normal (A) com células com núcleos uniformes VS urotélio com CIS (carcinoma in situ) (B) com inúmeras células com núcleos de tamanho alargado e pleomórfico (retirado de [7]). |
Bibliografia
- [1] Ross MH, Pawlina W, Kaye GI. Histology: a text and atlas. 4th ed. Philadelphia: Lippincott, Williams and Wilkins; 2003
- [2] http://dicasderadiologia.com.br/site/2011/02/resumo-sobre-a-anatomia-do-sistema-urinrio/. Consultado online em 08/01/2012.
- [3] http://www.ebah.com.br/content/ABAAAAJVgAC/sistema-urinario-histologia. Consultado online em 08/01/2012.
- [4] http://pt.scribd.com/doc/15726548/Imagens-Histologia-Basica-9. Consultado online em 08/01/2012.
- [5] http://www.urology-textbook.com/bladder-histology.html. Consultado online em 08/01/2012.
- [6] http://info.cancerresearchuk.org/cancerstats/types/bladder/incidence/. Consultado online em 20/01/2012.
- [7] Ramzi C, Vinay K, Tucker C. Robbins Pathologic Basis of Disease, Sixth Edition. W.B. Saunders; 1999.
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